sábado, 14 de fevereiro de 2015

VGiordano #001

O cheiro do café invadia o quarto, o pai dela já estava acordado. Valentina se olhou no espelho e esfregou os olhos, como se isso pudesse apagar as olheiras em seu rosto.
- Filha, está na hora de se arrumar, tenho que ir mais cedo para trabalho hoje...
- Já estou quase pronta. - Ela arrumou a saia do uniforme e pegou a mochila.

O pai estava dividindo a atenção entre o jornal e a xícara de café, a mãe ainda estava na máquina de costura e assistindo o jornal da manhã.
- Outra noite sem dormir? - Valentina beijou a testa da mãe.
- Não se preocupe querida, daqui a pouco eu tiro um cochilo. - Anna
- Nunca vou deixar de me preocupar com vocês, porque os amo muito.
- Como vai no colégio? Parece que a cada dia você estuda mais... - Victor
- Sim, tenho muita coisa para ler, é o último ano antes da faculdade, mas logo chegam as férias e eu poderei ajudar a mamãe.
- Não senhora, não quero te ver numa máquina de costura, você está se formando, juntando seu dinheiro para seu curso. Você terá uma profissão. - Anna
- Mas ajudar durante as férias não mudará nada disso.
Valentina ficou olhando para a peça que a mãe fazia, era um vestido rosa. Garotas e seus vestidos de baile cor de rosa...
- Filha, nós temos que ir...
Ela pegou a mochila e seguiu o pai até o carro.
- Nesse final de semana nós vamos sair para você aprender a dirigir.
- Dirigir? Eu?
- Sim, é bom que mais alguém saiba fazer isso lá em casa.
- Pai, o senhor está bem?
- Cansado, só estou muito cansado.
- Pai, já pensou em procurar sua família na Itália?
- Eu vim de lá, mas não tem mais nada para mim lá. Não é mais o nosso lugar.
- Mas e os seus pais?
- Eles são diferentes da nossa família, nunca daria certo tentar juntar todo mundo agora. Foi uma escolha minha, eu escolhi vir para cá  e casar com a sua mãe.
Valentina tirou um livro da mochila e começou a ler.
- Filha, eles não são como você imagina, é melhor deixá-los no passado onde não podem machucar ninguém com suas palavras rudes. Se fosse diferente eu levaria você para conhecer seus avós, sua tia Bianca e os filhos dela, Miguel e Gisele. Eles devem ter quase a sua idade agora.
- Por que você não chama a titia e os meu primos para passar as férias aqui? Não precisa perder a parte boa, é só separar da parte ruim.
- Vou pensar, não prometo nada. Por que você está pensando tanto nisso?
- Você fala muito pouco sobre a Itália... Só fiquei um pouco curiosa.
- As coisas estão difíceis, mas somos só nós três.
- Mas pai...
- Eu e sua mãe sempre resolvemos tudo, agora não será diferente.
- Eu vou chegar um pouco mais tarde hoje, o Luke me chamou para jantar na casa dele.
- E por que ele não vem jantar com a gente?
- Porque ele já jantou lá em casa três vezes essa semana. É sexta feira pai, vou passar o final de semana em casa ajudando a mamãe e estudando.
- Eu vou ligar para o pai dele.
- Você tem o número do pai dele?
- Sim, ele também está preocupado, vocês estão o tempo todo juntos...
- Estudando na mesa da cozinha, com a mamãe costurando de porta aberta vigiando o tempo todo.
-  Mas ninguém está vigiando na escola.
- Não, só professores, inspetores e um monte de alunos.
- Você é muito nova para ter um namorado.
- Eu concordo, por isso que tenho um amigo. O que acha? Deixa?
- Chegamos. Você pode ir jantar com seu amigo.
- Você é o melhor! -Valentina abraçou o pai e saiu do carro. Ela ficou na frente do colégio vendo o carro se distanciar.

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