sábado, 20 de agosto de 2016

Natalie EP#001

Os corredores do colégio estavam cobertos com cartazes e banners coloridos.  Ela andava pelas sala supervisionando os últimos detalhes. O longo cabelo castanho escuro e o enorme sorriso a distinguia das outras apesar do uniforme escolar. Natalie percorre o trajeto mais uma vez e volta para a sala da turma dela.
- Natalie, o guitarrista da banda que vai tocar hoje de noite, vem deixar os instrumentos e conhecer o salão. Você pode cuidar disso para mim?
- Tudo bem. Se precisar de alguma coisa, me liga. E obrigada por me apoiar nesse projeto. - Natalie abraçou Esme, pegou a bolsa e saiu da sala.
Exposição dos trabalhos da feira e da gincana no dia da festa de formatura. Seria uma loucura se ninguém tivesse apoiado. Por sorte Natalie tinha alguns dons naturais que se destacavam, um deles era resolver problemas. Nem sempre foi assim, mas a temporada na fazenda dos Fletcher deixou esse dom evidente.
Em poucos minutos receberia a banda TheGuysP, que tocaria na festa de formatura hoje. Josh, o baterista, era um gênio que apesar de um ano mais novo cursava o mesmo curso que o irmão, Ryan, era o vocalista, foi parceiro dela nas aulas de balé e em alguns recitais. Dan era o guitarrista, ele era o melhor amigo dela, foi o único com quem Natalie manteve contato quando foi para Austin por um ano. E Jay, o baixista era o único que ela não conhecia pessoalmente.
Na última vez em que Natalie viu Ryan, foi no pior dia da vida dela.
Tudo deu errado, ela repetiu de série, a mãe não respondia suas ligações, ninguém apareceu no recital. A discussão com Nina, Ryan a viu chorar como uma criancinha perdida. Aquele dia terminou da pior maneira possível.
O empresário Michael Maldonado, presidente do grupo Maldonz, sofreu um acidente com o avião particular da família, as buscas começaram uma hora atrás. Não temos confirmação de quem mais estava no avião além de Michael Maldonado, mas a filha dele, Natalie Ribeiro Maldonado ainda não foi encontrada.
Natalie entrou no banheiro e se olhou no espelho , dois segundos lembrando dele e as lágrimas já ameaçavam cair. Ela começou a falar consigo mesma...
- Você não é a mesma, dois anos se passaram. Está mais velha, mais forte e diferente de antes. - Naty sorriu lembrando da menina estranha com o cabelo desajeitado e das camisetas xadrez de flanela do pai que ela usava sempre. - Além disso o Ryan vai entender...
Naty enxugou as lágrimas, ajeitou o arco no longo e liso cabelo castanho, saiu do banheiro e foi andando em direção a entrada.
A van com o simbolo da banda na lateral parou na frente do colégio. O sorriso no rosto dela... O olhar pensativo dele...
- Ryan, é a Naty? - Josh segurou o braço do irmão.
- Sim, é ela.
- Tem certeza? Não parece ser a mesma...
Ryan bateu na nuca do irmão e foi até ela.
- Que bom poder te ver finalmente. - Ele estendeu uma caixa para ela. - Abre depois.
- Vou tentar adivinhar, o Dan falou de mim?
- Ele tentou ser discreto, mas nós sabemos o quanto isso não funcionaria. Além disso, a cidade não é tão grande assim. Mas você já sabia disso. Senti saudade da minha parceira de dança.
- Também senti saudade de dançar...
- Josh pega a guitarra e o baixo, deixa que eu levo a bateria.
- Espera... - Naty foi até um grupo de meninos que estavam na frente do colégio. - Vocês podem nos ajudar a levar os instrumentos para o salão de festa?
Naty segurou Ryan pelo braço e o levou até o salão de festas.
- Então, presidente do grêmio estudantil, amiga secreta do Daniel por dois anos, fantasma da cúpula. Antes eu tinha dúvidas, mas agora eu sei que você está aqui...
- Sim, eu era a aluna misteriosa da aula das cinco da manhã.
- Só você para fazer minha mãe acordar tão cedo. O que mais você aprontou nesse tempo? Além do namorado problemático que você arrumou...
- William Fletcher? - Natalie sorriu.
Ryan soltou a mão dela e foi ajudar Josh a guardar os instrumentos.
- Pelo menos você voltou para casa.
- Esse lugar é a única casa que eu conheço, se tem um lugar no mundo para onde sempre voltarei, enfim... E ele não é meu namorado.
- Então, quem é o sortudo por quem você mudou tanto?
- Mudei por mim e por ninguém mais.
- Sempre soube que você é esperta, mas esse brilho no seu olhar só pode ser uma coisa. No que está pensando agora?
- Quer mesmo saber?
- Sim. Qual foi a última coisa que pensou antes de nós chegarmos?
Natalie ficou quieta olhando para ele. Josh e os outros garotos saíram dali sem eles perceberem.
- Pode falar, você sabe que eu guardo seus segredos.
- Você,  eu estava pensando na última vez em que nos vimos.
- O melhor dia da minha vida...
- O pior dia da minha vida...
- Espera, você estava pensando em mim?
- Então, né... - Naty virou as costas e começou a andar em direção a saída. - Foi o pior dia da minha vida, mas a parte boa é que já passou.
Ryan sorriu e segurou a mão dela.
- Sabe, seria uma honra te acompanhar na festa de hoje.
- Você vai cantar com a banda...
- Eu dou um jeito nisso, nós daremos um jeito nisso. Vem, vamos dar uma volta, tem um monte de lugares que você deve ter evitado com medo de me encontrar...
- Tenho uma festa para organizar aqui...
- Não, já está tudo organizado, se conheço bem você, não tem nada para fazer de última hora.
- Certo, nós podemos almoçar juntos, mas lá em casa. Quero passar um tempo com a minha avó...
- Por quê? Pensando em ir embora sem se despedir outra vez?
Natalie continuou andando sem falar nada.
- É isso você vai embora, pelo menos planejava se despedir?
- Eu não sei se vou, não tenho certeza de nada.
- Por que você precisa ir?
- Vou assinar um contrato com a Dine na segunda, vou me mudar para o litoral.
Ryan sorriu.
- É uma ótima notícia, você morando perto da praia e com um contrato assinado.
Ryan e Natalie continuaram andando.
- Ficou feliz?
- Sempre foi um sonho nosso viver de música, não acha?
- É um sonho, mas não é o maior deles.
- E qual é o seu maior sonho?
- Talvez um dia eu te conte.
- É algo profissional?
- Não.
- Não é dançar? Cantar?
- Qual é o seu sonho?
- Tenho muitos sonhos, um deles é relacionado a minha futura esposa, mas também queria viajar por aí e cantar. Voltar e ajudar minha mãe com a acadêmia de dança.
- Quero ficar em paz comigo algum dia.. Talvez ter uma família, quintal grande e cachorro... O quão boba eu pareço agora?
- É um sonho bonito, mas você tem muito tempo para casar e ter filhos... Deve ter outra coisa que queira...
- Talvez.  - Natalie parou na frente do carro dela. - Você quer mesmo almoçar lá em casa?
- Na verdade, eu preciso ir resolver algumas coisas. Vejo você de noite?
- Sim.
Ryan sorriu e continuou andando.
Natalie entrou no carro e ficou lá sentada dentro do carro vendo ele ir embora. O celular dela começou a tocar, era o Patrick, ela atendeu...
- Mandei o que você me pediu, a Estela me ligou avisando que acabou de chegar.
- Valeu.
- Tem certeza que não me quer aí? É a sua formatura...
- A cidade é pequena não tem nada para você fazer aqui...
- Poderia passar um ano inteiro trancado na sua casa se sua avó fizesse aquelas tortas e aqueles salgadinhos...
-  Chega, estou morrendo de fome ainda não almocei.
- Vem logo para casa.
- Como assim, vem para casa.
- Natalie? A ligação ficou ruim... Você... É...
- Muito engraçado, tanto que estou ouvindo a Carly rir no fundo. Chego em cinco minutos, vai para o portão, quero te mostrar o Federico...
- Quem é Federico?
- Meu bebê, meu carrinho lindo.
- Desliga e vem logo, vem Carly vamos no portão ver a sua prima...
Natalie sorriu e desligou o celular.
Quatro minutos depois ela chegou em casa e não viu ninguém no portão. Ela estacionou o carro e entrou. O portão de ferro era três vezes maior do que ela, o jardim contornava toda a casa e a piscina.
A casa era grande, quando o pai dela a comprou ele quis que cada um tivesse seu próprio quarto, a família incluía na época o cunhado, a esposa do cunhado e a filha dos dois. Quando morreram num acidente de carro a filha, Carly ficou com a avó, Estela.
Estela cuidava do jardim, dos três netos, da casa inteira e fazia parte de um clube, o clube das amigas que fazia eventos, almoços, chás e exposições de vários tipos, tudo para ajudar a manter duas instituições da cidade, o asilo e o orfanato.
Natalie, sempre ajudava a avó, mas nunca aparecia nos eventos. Ela preferia passar o tempo dela indo até lá.
Ninguém sabia, mas todo sábado ela fazia sempre o mesmo, passava no shopping e comprava tudo o que tinha na lista que recebia toda semana pelo email, material escolar, livros, doces e brinquedos para as crianças.
Passava as manhãs brincando, dando aula de violão e dança no orfanato e de tarde ficava algumas horas conversando com os idosos do asilo. Ouvia histórias, contava histórias e cantava músicas antigas.
Natalie entrou em casa e foi direto para a cozinha.
- Oi vovó, como foi a sua manhã? Agitada, eu imagino, com Patrick Fletcher na casa...
- Ele é ótimo querida e gosta muito de você. Para deixar o filho esperando e vir na sua formatura...
- Isso é péssimo, o Will é filho dele...
- Não seja injusta com ele você também, ele prometeu para o seu pai que cuidaria de você, ele aceitou ser seu tutor até que você completasse vinte e um e esteve do seu lado desde o acidente.
- Eu vou falar com ele... - Naty foi até a porta da sala e viu os dois assistindo a série do Will.
- Cheguei... - Natalie se jogou no sofá e ficou olhando para os dois.
- Eu disse que ela ficaria chateada por você ter vindo. - Carly sorriu para a prima.
- Claro que não, amei você ter vindo, finalmente você veio... - Naty agarrou uma almofada.
- Viu Carly, ela gostou de me ver... - Patrick veio até Natalie. - Você está bem?
- Se você for na festa vai ser o fim de alguns relacionamentos, você vai ser perseguido vai acabar trancado aqui com todas as mulheres da cidade cercando a casa.
- Eu vou na festa, nem que seja disfarçado.
- É sério Patrick, você não pode fazer isso.
- Não quer que eu vá com você?
- Só se você usar uma máscara a noite toda...
- Essa é uma boa ideia, vamos os quatro de máscaras. - Carly se empolgou.
- Não vai dar certo, a menos que... - Natalie pegou o celular e saiu da sala.
- O que você acha que ela vai fazer?
- Ela vai dar um jeito nisso.
- Acha que ela vai se acertar com o Ryan?
- Quem disse que ela gosta do Ryan? - Carly sorriu e voltou sua atenção para a televisão. - É muito difícil atuar?
- Não tanto assim, as vezes bons dubladores podem ajudar muito.
- Acha que a Natalie ficará feliz sozinha no litoral?
- Acho que ela vai trabalhar muito, mas não se preocupe ela nunca estará sozinha.
- Você devia falar com ela...
- Falar o quê?
- Na verdade Carly, eu tenho até segunda par convencer a Natalie que ela ficará melhor em Manhattan comigo, sendo gerenciada pelo Will.
- O que você está propondo? - Natalie voltou para a sala com o celular na mão.
- Você assinar com a Fletcher e ir morar com seu irmão...
- Por que você quer isso?
- Porque... Sim?
- Não posso, eu vou assinar um contrato de três anos com a Dine, se quiser fazer um acordo com ela para me levar em turnê por um mês aí é com você.
- Eu vou fazer isso, o que acham de passar o próximo mês lá em casa? A Carly e a Estela poderiam vir também, um natal branco igual ao ano passado que tal?
- Tem certeza que nos quer na sua casa? O Will não vai ficar muito feliz.
- Ele terá que se acostumar e não me force a fazer as coisas do jeito difícil até os vinte e um você precisa da minha autorização para assinar contratos e outras coisas...
Carly saiu da sala e deixou os dois conversando.
- Só você para colocar um sorriso no meu rosto hoje. - Naty segurou a mão dele.
- Então, como ficou a festa? Vou poder ir com você?
- Sim, convenci alguns amigos a irem de máscara. Só tem um problema, eu tenho que ficar até o último sair.
- Sem problemas, eu fico lá com você...
Carly tirou um foto dos dois.
- Vou publicar no blog quando você for embora, ninguém vai acreditar que você estava na festa.
Escrito por: Izzy Rosa

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