segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Bernardine #001

Nunca foi capaz de perceber quando éramos crianças... Faz tanto tempo, estou tão diferente agora...  E eu sei que você nunca vai acreditar, mas meu sentimento continua o mesmo...
Ainda amo você, e é engraçado pensar nisso por que agora eu nem te conheço mais.
Agora que terminei meu curso estou voltando para casa depois de quatro anos sem encontrar com você...
Eu não acredito que ainda escrevo um diário, isso é tão, infantil...
Apesar de saber que grandes escritoras começaram tudo com diários e que nunca pretendiam mostrá-lo ao mundo inicialmente e no fim tornaram-se grandes obras...
Espero sinceramente que ninguém nunca descubra que ainda uso. Ainda ando para cima e para baixo com ele, mas ninguém dá atenção a isso porque agora meu diário mais parece uma agenda por fora do que a fonte secreta de todos os meus segredos...
Meu melhor amigo durante toda a minha vida até que uma bolsa de estudos me afastou dele sempre fomos ligados por que somos vizinhos e nossos pais eram amigos até o dia que meu pai sumiu e o tio Júlio basicamente me adotou. Não me lembro do meu pai por que era muito pequena quando ele foi embora.
O tio Júlio e ele fizeram faculdade juntos, mas meu pai enfrentou meu avô e faltando dois períodos para acabar a faculdade largou tudo. Para fazer algo que ele queria. Tocar bateria numa banda.
The Fools Singers estourou depois de um ano de ensaio e trabalho duro. Meu pai se apaixonou pela fama. A atenção que recebia era tão grande e se tornou tão importante para ele que quando a banda se separou dois anos depois, meu pai perdeu a cabeça.
Ele tinha dinheiro suficiente para fazer o que quisesse, ele finalmente ouviu meu avô e terminou o curso que tinha trancado, e virou vendedor numa loja de móveis, casou-se com uma amiga da época da escola.
Mudou para uma casa perto de seu melhor amigo e teve uma filha. Mas a vida dele era muito vazia nada daquilo era importante para ele.
O tio Júlio diz que ele sorria poucas vezes, mas eu o fiz rir mais do que qualquer outra coisa, com meus primeiro passos e minhas primeiras palavras.
Ele acordou um dia arrumou as malas e saiu. Ninguém nunca mais ouviu falar dele. Nem sei se ele ainda está vivo.
Esse assunto é proibido lá em casa, minha mãe nunca se fechou. E ninguém mais responde minhas perguntas sobre isso. Talvez um dia consiga descobrir o que aconteceu. Tenho certeza que qualquer coisa terei que buscar sozinha.

Realmente eu estou escrevendo muito e tão rápido que nem percebo quando é hora de parar. Todos estão dormindo no avião, que não está tão cheio assim. A luz acima da minha cabeça parece uma estrela solitária no meio da escuridão. Faltam oito horas de viajem e eu não consigo dormir vou largar esse diário e vou tentar dormir um pouco...


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.